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Não, eu ainda não tenho filhos, mas me arrisco a falar sobre o tema. Conheço mulheres que optaram pela maternidade por sentirem o comando do coração ou por uma programação social. Mas também conheço as que não querem ter filhos pelo medo de repetir padrões familiares ou que encaram o dar à luz neste mundo “escasso, violento e cheio” uma falta de responsabilidade ou cuidado. Para já aliviar sua curiosidade, pois você já deve estar se perguntando sobre meus planos, sim, eu quero muito ser mãe, mas vou tentar trazer um pouco da minha visão sobre isso neste texto.
Os meus questionamentos sobre quem, em mim, desejava ter um filho começaram recentemente, há pouco mais de um ano. Desde pequena, tive vontade – aquela que muitas meninas já demonstram nas atitudes do cuidar, sabe? Sempre percebi o desejo de vínculos, mas, ao longo do tempo, passei a me questionar (por algum motivo esse processo ocorreu): seria um medo de solidão? um desejo de realização por meio dele? medo da escassez? Encontrei algumas respostas.
E, pensando, na maternidade de uma maneira em geral, no processo hormonal que ocorre, encontrei algumas explicações. No final da gestação, temos impulsos que estimulam a secreção de ocitocina. Ela é uma das responsáveis pelas alterações que induzem a expulsão do feto do útero. E, depois, é o hormônio responsável pela ejeção do leite. Sutilmente, já conseguimos perceber a associação deste hormônio ao verbo “doar” : dar a luz e leite. É conhecida também como hormônio do amor. No cérebro, tem se mostrado importante em comportamentos humanos, reconhecimento, confiança, vínculo mãe-bebê, empatia, melhorando a interação social. Enquanto baixos níveis têm sido associados a autismo e a sintomas depressivos.
Nós, mulheres, somos privilegiadas por podermos ter o aumento deste hormônio e contribuir para a permanência dos vínculos entre as espécies. Mas será que, de tanto amor que temos para dar, nós conseguimos nos conectar com uma das primeiras ações da ocitocina que é a expulsão do feto? Aqui eu chamo atenção para esse papel que é tão feminino – de ser um canal para receber e deixar livre. Tentando evitar ao máximo as projeções, as tentativas de suprir uma carência e assim fazer o movimento oposto: aprisionar, controlar. Hoje, pensando no mundo em que vivemos, certamente fico com medo da responsabilidade de ter um filho. Mas entendo que, se um chamado vem do coração de alguma maneira, quando isso ocorrer, é porque o céu quer que eu receba aquele filho para deixar livre sua expressão no mundo, sabendo que eu sou só uma via para ele chegar neste mundo. E aí, lembro-me de uma fala do Papa Francisco: “Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalha, sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza.”
Mas e para aquelas que não sentem esse desejo? Certamente descobrirão outras formas de vínculos. Pois, além de ser fundamental para a manutenção da nossa espécie, o estabelecimento de laços proporciona o nosso bem-estar: “O seu verdadeiro bem-estar está indissociavelmente ligado ao bem-estar de todos à sua volta”.
E como podemos salvar da extinção essa ocitocina fundamental contra a violência e para manutenção do elo entre as pessoas? As práticas contemplativas de compaixão aumentam a secreção deste hormônio tão querido. Com elas, expandimos nossa capacidade de nos sentirmos amados e conectados – e isso nos fará verdadeiramente felizes. Essas práticas estimulam uma felicidade interna e genuína. Peço aqui, então, um respeito para aquelas que optam por não terem filhos. O quanto nossa sociedade as olha e as questiona: vão envelhecer sozinhas sem filhos? Ficarão incompletas? Essas mulheres podem ter formado outras formas de conexão. E talvez sejam bem responsáveis e cuidadosas ao fazer essa opção e não suprir essa carência por meio de um filho.
Essa é a minha visão, baseada no que diz meu coração, através do que sinto, vejo e busco. E você, já parou para escutar seu coração? O que ele diz? Ouça. Sinta. Acolha. Respeite.
http://www.yourhormones.info/hormones/oxytocin/ Education Resource from the Society for Endocrinology
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