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Me lembro como se fosse hoje, ainda na faculdade de medicina, a falta de tempo começou a crescer no meu dia a dia. E o meu cuidado pessoal ficou relegado ao fim da minha lista de prioridade. Era preciso cuidar do outro, era preciso salvar vidas. E isso tudo parecia muito mais importante. Mas até que chegou um momento que a falta do meu autocuidado começou a afetar diretamente o meu trabalho. Já não conseguia mais ficar ali, diante de um paciente. A impaciência se fazia presente.

Precisei reconhecer uma grande dificuldade que eu tinha. Cuidava do meu paciente. Mas tinha dificuldade de me cuidar.

Confesso que começar a inserir o autocuidado não foi fácil. Em diversos momentos eu me sentia improdutiva neste local. E o julgamento vinha: como parar para me cuidar? Isso é coisa de mulherzinha. E eu dizia para mim: “Você precisa continuar sendo forte, aguentando tudo. Só mais um pouco. Você consegue!” Me diz. Eu, e mais quantas mulheres nos espelhamos no exemplo de masculino para nos colocarmos no mercado de trabalho?

Pois é, tentei. Mas não sustentei. E o benefício não foi só para mim. Percebi ele crescendo a cada dia no meu contato com o meu paciente.

Eu diria que esse meu autocuidado se fortaleceu na Pós em Bases de Saúde Integrativa e Bem estar no Einstein.

Lembro de uma aula, do meu amado professor Plínio, coordenador da área de cuidados integrativos do Sírio Libanês, que trouxe a ressignificação do cuidar para mim através de uma tríade composta por:

  1. Cuidar-se
  2. Para cuidar do outro
  3. Para aceitar ser cuidado.

E assim eu fui gentilmente percebendo, e às vezes até dolorosamente, pois entrar em contato com nossas dificuldades nem sempre é fácil né?! Mas fui percebendo que eu levo para o outro além de toda técnica aprendida na faculdade de Medicina, o estado em que eu me encontro. E sim, eu precisava cultivar esse meu estado.

Além disso, torna-se muito mais fácil falar sobre promoção de saúde se eu promovo a minha, você não acha?

Me diz você, como tem cuidado da sua tríade?

E essa foi a chavinha para abrir a porta da minha satisfação na medicina. E é o que eu gostaria de te incentivar em fazer hoje.

Para finalizar, gostaria de parafrasear Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”

E sigamos assim, em aprendizagem… lenta e constante.

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